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Ikea investe em projeto de energia solar regulada por blockchain

Modelo permite a comercialização de excedentes entre vizinhos de comunidades isoladas

 

energia solar

O Space 10, laboratório de inovação da sueca Ikea, mundialmente conhecida pelos móveis de design limpo, baixo preço e fáceis de montar, está rodando o mundo com um projeto que amplia suas perspectivas em um segmento no qual atua hoje de forma bastante tímida: o de energia solar. Trata-se do protótipo de um microgrid, voltado a pequenas comunidades, que permite a geração e a comercialização de excedentes de energia entre vizinhos, através de uma plataforma blockchain. Chamado SolarVille, o projeto, em maquete, é resultado de estudos internos sobre como o modal pode mudar a vida das pessoas no futuro.

A vila, formada por peças de madeira em escala de 1:50, foi apresentada no início do ano em Copenhague e, a partir de março, começou a viajar para outros países. Para gerar energia nos pequenos painéis solares instalados sobre os edifícios da maquete, é usada uma fonte de luz artificial. A eletricidade gerada é então automaticamente “comercializada” entre as residências que geram excedente e as que têm déficit. O fluxo da energia pode ser observado pela ordem em que se acendem pequenas luzes LED nas casinhas de madeira.

“Nossa abordagem de design foi transformar um projeto muito complicado e técnico em algo familiar, acessível e lúdico”, afirmou à revista de arquitetura e design Dezeen Anders Nottveit, do escritório SachsNotteveit, envolvido no projeto com a Ikea e startups de blockchain (BLOC, Blocktech e WeMoveIdeas India).

“As pesquisas financiadas pela Ikea e pelo Space10 nos dão novas perspectivas, abrindo oportunidades em muitas áreas diferentes”, disse Torbjörn Lööf, CEO do Inter IKEA Group, controlador da Ikea, ao site de arquitetura Arch Daily.

Segundo reportagem da revista Fast Company, no Reino Unido, a Ikea já vende painéis solares, desde 2013, e kits com painéis solares e baterias, desde 2017. Além disso, uma das metas anunciadas pela Ingka, rede de franchising da Ikea com cerca de 370 lojas da companhia em cerca de 30 países, é a de levar soluções baratas de energia solar aos clientes até 2025. Uma das vantagens do modelo é justamente o custo de geração e distribuição, que exige investimentos menores e infraestrutura e é feito sem intermediários, de forma automática e transparente, graças ao blockchain onde as transações ficam registradas. Outra é a possibilidade de o dinheiro pago pela energia ficar dentro da própria comunidade.

Segundo a Space 10, a intenção é de que o sistema seja fácil de usar e instalar, como os móveis vendidos pela Ikea.
De acordo com David Thorpe, autor de livros como Reforma Residencial Sustentável (Sustainable Home Refurbishment), em artigo publicado em março, já existem redes P2P de compartilhamento de energia em blockchain em lugares como o bairro novaiorquino do Brooklyn, na pequena cidade australiana de Fremantle e em Amsterdã, na Holanda. “Mas se a Ikea for capaz de tornar a adoção dessa tecnologia tão fácil quanto montar um armário, a ideia pode realmente decolar”, afirma o jornalista, consultor e palestrante, especializado em eficiência energética e arquitetura sustentável.

Marcio Takata, conselheiro da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar), avalia que iniciativa da Ikea é mais um passo em direção a mudança da matriz energética mundial, que caminha para um modelo com maior participação de energias renováveis e geração distribuída. “As grandes usinas vão continuar a ser importantes. Mas começamos a ver uma forte aceleração da geração distribuída, que tem a energia solar como energia predominante”, afirma. “O que ela traz de mais interessante é justamente a possibilidade de que o processo de instalação e geração seja mais democrático. Ao invés de uma grande empresa de projetos e instalações, que faz a grande usina, empresas de pequeno porte podem dimensionar, instalar e fazer a manutenção de usinas solares de pequeno porte”.

A China, sozinha, ampliou a capacidade de geração solar em 45 GW, no ano passado. É o equivalente a mais de três Itaipu. O país é o que tem hoje maior potência instalada (176,1 GW). Em seguida, vêm Estados Unidos (62,2 GW), Japão (56 GW) e Alemanha (45,4 GW). No Brasil, onde o movimento está começando, há cerca de 3 GW de potência instalada, segundo dados da ABSolar, a maior parte em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Takana porém, chama atenção para a questão da segurança. “Não conheço o processo de instalação e dimensionamento do projeto da Ikea. Talvez tenham desenvolvido um processo que torne a instalação extremamente simples e segura”, diz.

De qualquer forma, diz o conselheiro da ABSolar, hoje, o dimensionamento e instalação de placas para geração solar em residências costuma requerer um nível de qualificação “importante”, diferente do que acontece no caso dos móveis. “Não é nada tão difícil de aprender, que impeça a expansão do modal. Mas é preciso certo cuidado”, diz. Em função disso, afirma, ao menos no Brasil, nos próximos anos, o serviço ainda deverá ser feito predominantemente por profissionais.

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