Terça-feira, 21 de agosto de 2018
O crescimento estrondoso do mercado de criptoativos no Brasil motivou, durante o ano de 2017, a realização de diversas pesquisas com o objetivo de descobrir o perfil do investidor nacional.
Pesquisas foram realizadas com públicos específicos, por diversas empresas e o interesse pelo tema continuou ativo em 2018. A motivação em conhecer melhor o perfil de quem investe em Bitcoin e outros ativos digitais motivou dois alunos do curso de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV) a elaborarem um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) voltado para esse tema.
Intitulado O Perfil do Investidor de Criptomoedas no Brasil, o trabalho possui como objetivo, de acordo com seus autores, “oferecer uma visão mais clara sobre o perfil do investidor de criptomoedas no Brasil e o potencial de não investidores entrarem no mercado”. O trabalho analisa as principais motivações de quem investe em criptoativos, o tipo de portfólio que o investidor mantém, a presença de investimentos tradicionais, a familiaridade do investidor com termos do mercado, e também analisa a motivação das pessoas que não investem nesse mercado.
Além desses dados, o trabalho monta um perfil geral sobre o tipo de público que está no mercado em termos de dados demográficos, traçando um perfil completo desse investidor. O resultado é um dos mais completos trabalhos sobre o tema já realizados no território brasileiro.
Para apresentar seu trabalho, os pesquisadores buscaram responder a duas perguntas: qual o perfil do investidor de criptoativos e qual o perfil do não investidor desse mercado. A estrutura de pesquisa na qual baseiam-se essas duas questões pode ser conferida nos dois quadros abaixo.
Quanto ao perfil, a maioria dos investidores em criptoativos continua sendo de homens, com 92%, contra 8% sendo mulheres. Quanto aos dados de faixa etária, podemos notar um certo equilíbrio. A maioria dos investidores possui de 20 a 25 anos, com equilíbrio nas faixas de 26 a 30 e 31 a 40 anos, cada uma representando cerca de 20%. A média de idade dos investidores, de acordo com a pesquisa, é de 28 anos.
Já no quesito de renda média, temos um dado que pode surpreender. A grande maioria dos investidores (40%) ganha menos de 3 salários mínimos – menos de R$2.500,00. 29,5% ganham entre R$2.500,00 e R$5.000,00. Apenas 2% dos investidores ganham mais de R$50.000,00. Isso mostra que o maior interesse do Bitcoin está na parcela mais pobre da população, o que pode ser explicado pela maior facilidade de se investir na criptomoeda, assim como a menor burocracia para abrir uma carteira ou uma conta numa exchange.
Quanto ao momento da primeira compra, a maioria dos investidores entrou no mercado no 2º semestre de 2017, o que coincide com o período de alta estrondosa do Bitcoin. Somados aos cerca de 20% que entraram na primeira metade, podemos concluir que 2017 foi realmente o ano das criptomoedas, com metade dos investidores fazendo sua primeira compra naquele ano.
Quanto ao porfólio dos investidores de criptoativos, a pesquisa mostra, sem nenhuma surpresa, que o Bitcoin possui predominância absoluta: 86% dos investidores declararam que possuem a principal criptomoeda do mercado. Outras moedas digitais presentes no portfólio dos entrevistados são Ether (47%), Litecoin (30%), IOTA e Ripple (21% cada). Em média, o portfólio de um investidor de criptoativos possui de duas a três criptomoedas, de acordo com a pesquisa.
Outra questão que foi levantada pela pesquisa é se os investidores de ativos digitais possuem investimentos tradicionais. Nesse ponto foi observado um equilíbrio: 55% dos investidores possuem outros investimentos, enquanto 45% possuem apenas criptomoedas. É importante ressaltar que muitas pessoas que investiram em Bitcoin e outras moedas o fizeram devido ao ceticismo em relação ao sistema financeiro tradicional, como veremos mais adiante.
A pesquisa buscou avaliar também o conhecimento do investidor em relação ao mercado no qual está investindo. No aspecto de conhecimento, foram apresentados vários termos aos entrevistados e, em seguida, foi-lhes perguntado qual o seu nível de compreensão sobre cada um deles.
Aqui, podemos observar que a familiaridade dos investidores com termos mais básicos do mercado, como criptomoedas, wallets e blockchain, é bastante alta, representando 93%, 88% e 85%, respectivamente. Mesmo para os termos mais complexos, como double spending e Proof-of-work, a taxa de pessoas que afirmam conhecer os termos é razoavelmente alta, com 44% e 51%. Isso pode significar que o investidor desse mercado busca mais conhecimento sobre conceitos e termos próprios dos criptoativos.
Quando passamos para a motivação, a pesquisa se divide em duas partes e procura avaliar qual a motivação tanto de quem investe em criptoativos quanto de quem não investe. Em relação ao primeiro grupo, a maioria dos investidores (79,6%) afirmou que investiu com o objetivo de obter ganhos de longo prazo, enquanto que 54% afirmaram buscar ganhos no curto prazo.
Já a quantidade de pessoas que afirmaram ter investido por hype ou por indicação de amigos e parentes se mostrou muito baixo, uma vez que 78% e 60% dos entrevistados, respectivamente, negaram essas afirmativas. É importante ressaltar a quantidade de pessoas que afirmaram ter investido nesses ativos como uma alternativa ao sistema bancário (72%), o que parece se refletir na quantidade de investidores que possuem apenas criptomoedas em seu portfólio.
O trabalho feito pelos alunos da FGV trouxe um apanhado completo sobre o mercado de criptoativos brasileiro e traçou um perfil mais apurado sobre qual o tipo de investidor que busca acesso a esse mercado.
Vimos que a maioria dos entrevistados são das classes mais populares (média/baixa), pessoas que geralmente são menos propensas a investir dinheiro. Isso pode mostrar que as criptomoedas representam uma forma de introdução para muitos brasileiros, com potencial inclusive para substituir a caderneta de poupança, o investimento mais popular do país.
Pelo menos metade dos investidores entraram no mercado em 2017, o que comprova que aquele ano representou um marco na divulgação e procura pelas criptomoedas no Brasil. E os investidores, aos poucos, estão acrescentando esses ativos em seus portfólios.
Podemos ver também que o hype e as indicações parecem ter tido menos peso no investimento do que muitos imaginavam, e que o crescimento do valor desses ativos – principalmente na segunda metade do ano passado – contribuiu para motivar a busca por ganhos de curto e longo prazo pelos investidores.
Resta saber o que 2018 reserva para aqueles que tiveram paciência e que mantiveram seu portfólio e sua estratégia de investimento. E que venha o relatório de 2018.
*Matéria escrita por Luciano Rocha e publicada, originalmente, no Portal do Bitcoin.
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